quinta-feira, 2 de novembro de 2006

A Fada Oriana

Por mais que viva, nunca vou esquecer a pacieência da minha mãe que, todas as noites, me lia um excerto d' A Fada Oriana. Pode ser pindérico, mas ainda hoje me parece uma das obras mais geniais da literatura portuguesa.
Sobretudo na voz da minha mãe.

"Há duas espécies de fadas: as fadas boas e as fadas más. As fadas boas fazem coisas boas e as fadas más fazem coisas más.

As fadas boas regam as flores com orvalho, acendem o lume dos velhos, seguram pelo bibe as crianças que vão cair ao rio, encantam os jardins, dançam no ar, inventam sonhos, e à noite põem moedas de oiro dentro dos sapatos dos pobres.
As fadas más fazem secar as fontes, apagam a fogueira dos pastores, rasgam a roupa que está ao sol a secar, desencantam os jardins, arreliam as crianças, atormentam os animais e roubam dinheiro aos pobres.
Quando uma fada boa vê uma árvore morta, com os ramos secos e sem folhas toca-lhe com a sua varinha de condão e no mesmo instante a árvore cobre-se de folhas, de flores, de frutos e de pássaros a cantar.
Quando uma fada má vê uma árvore cheia de folhas, de flores e de pássaros a cantar, toca-lhe com a sua varinha mágica do mau fado e no mesmo instante um vento gelado arranca as folhas, os frutos apodrecem, as flores murcham e os pássaros caem mortos no chão."
Sophia de Mello Breyner, A Fada Oriana.


Sem comentários: